As Tábuas de Madeira

 

     Dêem-me as tábuas,
     essas tábuas de madeira firme
     com que se constroem os barcos.
 
 
     Dêe-me as tábuas rijas do tempo,
     as tábuas livres e cantantes de madeira
     com que se erguem os muros fortes
     das cidades inexpugnáveis.
     Deixem-me juntá-las às folhagens
     do despojamento da sua condição de árvores.
 
 
     Com elas, prometo,
     irei vigorosamente alicerçar,
     no entrelaçar das tempestades
     que se lêem nos intervalos das nuvens invernais,
     as jangadas calmas
     que respondem nas manhãs de nevoeiro
     pelo simples nome de casas.
 
 
     Depois, se verdadeiramente me apetecer,
     decoro-as com dois pares de asas
     e deixo-as voar.
 
 
     A promessa permanece no poema.
     Deixemos as casas, na sua condição de jangadas,
     cumprir com a sua missão de navegar.

 

 

 

 

                             José António Gonçalves   

                            Memórias da Casa de Pedra

                                            Ed. Arguim-Madeira, 2002

 

 

 

 

 

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